29 de abr. de 2011

Pechada



O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava sendo chamado de "Gaúcho". Porque era gaúcho. Recém-chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado.

– Aí, Gaúcho!

_ Fala, Gaúcho!

Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações?

– Mas o Gaúcho fala "tu"! – disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato.

– E fala certo - disse a professora. – Pode-se dizer "tu" e pode-se dizer "você". Os dois estão certos. Os dois são português.

O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara.

Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera.

– O pai atravessou a sinaleira e pechou.

– O que?

– O pai. Atravessou a sinaleira e pechou.

A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo.

– O que foi que ele disse, tia? – quis saber o gordo Jorge.

– Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.

– E o que é isso? – Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.

– Nós vinha...

– Nós vínhamos. – Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto.

A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito.

"Sinaleira", obviamente, era sinal, semáforo. "Auto" era automóvel, carro. Mas "pechar" o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que "pechar" vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido: Pechada.

– Aí, Pechada!

– Fala, Pechada!

Crônica de Luis Fernando Verissimo

Ilustrada por Santiago

25 de abr. de 2011

Aprendi a Ler o Mundo

       Aprendi quando criança que tudo pode ser copiado, mas que temos que dosar certo, pois um erro pode ser crucial, aprendi quando criança que tudo pode ser resolvido facilmente, mas que temos que ser cautelosos, prudentes e sempre sempre sinceros, aprendi quando criança que dúvidas podem surgir, mas que se você manter a calma tudo se esclarecerá, aprendi quando criança, que o mundo não é um faz de contas, mas que dependendo da forma que se encara a situação, ‘ele’ pode se transformar em várias histórias muito agradáveis. 
        Aprendi a não dificultar tanto as coisas, a contar até 10, a respirar fundo....aprendi tanta coisa, aprendi inclusive que tenho que passar bons exemplos, que posso insistir nas coisas que, acredito, valham a pena, aprendi gostar de ser educadora, e tentar passar para outras pessoas tudo o que aprendi, e buscar aprender com elas mais e mais, porque, aprendi também, com o passar do tempo, que o aprender não ocupa espaço, não é pesado, e que quanto mais se ensina mais se aprende. 
       Aprendi também que as palavras mais carinhosas que proferimos, são as que mais nos deixam felizes e que os atos mais dignos, são os que mais nos enobrecem. E o mais importante, nada do que eu aprendi foi sozinha, contei com vários ajudantes, tive tantos amigos, tantos intérpretes deste mesmo sonho que hoje quero sonhar com outras pessoas, pessoas que realmente sabiam o quanto era importante minha formação, pessoas que me estenderam a mão, que me mostraram o caminho que eu devia seguir, pessoas que me deram amor, pessoas que me ofereceram subsídios para eu caminhar sozinha, sonhar sozinha, viver sozinha. 
       Só não aprendi voltar a ser criança, isto ninguém me ensinou, e nem continuar lendo o mundo de uma forma prazeiroza e faceira, como um bom conto infantil, sentir que sonhos são facilmente realizáveis, que não existe tristeza, nem desilusões amorosas, ah, e que aquela melhor amiga, será sempre a melhor amiga. 
       Hoje aprendi que todo o tempo que eu estive aprendendo, fizeram com que eu conhecesse tantos lugares, tantas pessoas, tanta coisa....e como eu progredi com isso, parece-me que as crianças de hoje, não se preocupam em aprender, querem mais é passar o tempo e não percebem elas que não estão carregando tanto saber, quanto eu carreguei, que não estão viajando tanto quanto eu viajei, que não estão buscando por um mundo onde elas gostem de viver. 
       É, eu aprendi viver no meu mundo, e aprendi também que a leitura me faz criar o mundo que eu quero viver.

14 de abr. de 2011

Viajar pela Leitura

Viajar pela leitura
sem rumo, sem intenção.


Só para viver a aventura
que é ter um livro nas mãos.

É uma pena que só saiba disso
quem gosta de ler.

Experimente!

Assim sem compromisso,
você vai me entender.

Mergulhe de cabeça
na imaginação!
(Clarice Pacheco)

Dom Quixote

Acompanhe a música da banda Engenheiros do Hawaii, e ao final assista ao vídeo para apreciar todos os sentidos da leitura.

Muito prazer, meu nome é otário
Vindo de outros tempos mas sempre no horário
Peixe fora d'água, borboletas no aquário
Muito prazer, meu nome é otário
Na ponta dos cascos e fora do páreo
Puro sangue, puxando carroça


Um prazer cada vez mais raro
Aerodinâmica num tanque de guerra,
Vaidades que a terra um dia há de comer.
"Ás" de Espadas fora do baralho
Grandes negócios, pequeno empresário.


Muito prazer me chamam de otário
Por amor às causas perdidas.


Tudo bem, até pode ser
Que os dragões sejam moinhos de vento
Tudo bem, seja o que for
Seja por amor às causas perdidas
Por amor às causas perdidas


Tudo bem... Até pode ser
Que os dragões sejam moinhos de vento
Muito prazer... Ao seu dispor
Se for por amor às causas perdidas
Por amor às causas perdidas


(Engenheiros do Hawaii - Composição : Humberto Gessinger / Paulo Gauvão)
 

7 de abr. de 2011

Voo



Vejam a beleza das palavras de Cecília Meireles. Ela faz uma comparaçao perfeita entre as borboletas e as palavras...

Voo

Alheias e nossas
as palavras voam.
Bando de borboletas multicores,
as palavras voam.
Bando azul de andorinhas,
bando de gaivotas brancas,
as palavras voam.
Voam as palavras
como águias imensas.
Como escuros morcegos
como negros abutres,
as palavras voam.

Oh! alto e baixo
em círculos e retas
acima de nós, em redor de nós
as palavras voam.

E às vezes pousam.

(Cecília Meireles)

5 de abr. de 2011

Transformações da EAD




As principais instituições de educação estão levando oportunidades e conhecimento através da EAD. Pequenos centros urbanos estão criando possibilidades de formação a seus moradores; áreas do interior do Brasil - com dificuldade de acesso à educação - ganham forças com os sistemas de EAD; outras instituições de ensino estão ampliando sua oferta de cursos e melhorando as tecnologias aplicadas à formação profissional. Estas transformações, resultados da EAD, reduzem as diferenças e criam oportunidades de acesso a conhecimentos sem limites.